Teatro e música inspiraram a revolução do "dissidente" relutante
Vaclav Havel nasceu a 5 de outubro de 1936 em Praga numa família de empresários e intelectuais com pouca simpatia pelo comunismo.
Em 1951, depois de terminar o ensino obrigatório, Havel viu-se impedido pelo regime de continuar no ensino normal e tornou-se aprendiz num laboratório químico, ao mesmo tempo que estudava à noite.
A tentativa de revolta contra o domínio soviético que ficou conhecida como a Primavera de Praga de 1968 aprofundou o seu papel de resistência à opressão do bloco comunista sobre a sociedade checoslovaca, o que lhe valeu várias estadias na prisão.
Em 1977, foi um dos coautores da "Carta 77", um manifesto contra a opressão motivado pela prisão de uma banda de rock checoslovaca, os Plastic People of the Universe.
Como viria a afirmar mais tarde, a resistência à opressão também se fazia e inspirava na música, especialmente os discos "proibidos" para além da Cortina de Ferro de bandas ocidentais, como os Velvet Underground, de que Vaclav Havel era especialmente fã.
As suas obras foram proibidas pelo regime, mas nos anos 80 um novo manifesto que ajudou a elaborar recolheu dez mil assinaturas contra a repressão.
Em 1989, quando o bloco soviético começava a desmoronar-se, encabeçou o Fórum Cívico que juntou vários movimentos de oposição e nesse papel acabou por ser eleito presidente pela Assembleia Federal da Checoslováquia, comprometendo-se a conduzir o país a eleições livres, que viriam a acontecer em 1990.
Foi esta "Revolução de Veludo" que assegurou uma transição para a democracia sem sangue.
A divisão entre checos e eslovacos resultante das eleições legislativas em 1992 levá-lo-iam a abdicar do cargo mas em 1993 candidatou-se e venceu as primeiras eleições presidenciais da República Checa independente da Eslováquia.
Em 1996 foi-lhe diagnosticado um cancro no pulmão de que recuperou. Em 1998 foi operado de urgência a uma perfuração intestinal e sofreu uma crise cardíaca.
Nos anos seguintes teve muitas complicações respiratórias e cardíacas que obrigaram a internamentos sucessivos.
Em Março deste ano foi hospitalizado devido a graves problemas respiratórios dias antes da estreia de uma adaptação cinematográfica da última peça de teatro que escreveu.
Acabou por morrer hoje durante o sono na sua casa de fim-de-semana.
Ficou conhecido por "dissidente", mas era um rótulo que rejeitava. Segundo explicou, uma pessoa só é "dissidente" porque alguém que não quer que se comporte de determinada maneira assim a classifica.